quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Entrevista com Fábio "Bill" Goes


Quando se fala de um veterinário que pratica esportes, muitos acreditam em uma modalidade elitizada como tênis ou até mesmo uma partida de futebol com os amigos aos domingos, mas ninguém espera que esse mesmo homem dedicado à cuidar de animais entre numa gaiola para participar de lutas de vale-tudo sem luvas.

Fábio Góes, o Bill é um faixa-roxa de jiu-jítsu ex-membro de uma filial Gold Team de Bragança Paulista, interior de São Paulo que aceitou o desafio de subir na jaula do RioHeroes, mesmo sabendo da ausência de luvas, tempo e outras regras da maioria de campeonatos de M.M.A, em entrevista ao Córner do Leão fala sobre essa experiência e como conciliar vida universitária com os tatames.

Como você virou o “Bill”?

Quando era bem novo com um ou dois anos de idade, meu irmão que é um ano e meio mais velho não conseguia pronunciar meu nome por inteiro e só saia o final do nome Fábio, “Bio”, e assim ficou, mas depois já com uns 14 ou 15 anos de idade comecei a me destacar no esporte que praticava, o bicicross e para o apelido ficar com mais destaque mudei de “Bio” para “Bill” e assim ficou!

Como foi seu início nas artes marciais?

Olha há uns oito anos atrás eu praticava Judô e alguns treinos de jiu-jitsu, mas com o tempo comecei a pegar mais gosto pelo jogo de chão, o que me fez optar por treinar mais o jiu-jitsu e assim se passaram alguns anos de prática.

Você é um faixa-roxa e luta vale-tudo. Acha que a falta da preta te prejudica nos ringues e gaiolas?

Então, o lance de faixa nos ringues nem sempre dá muita diferença, claro é necessário que seja no mínimo faixa roxa pra que não fique em muita desvantagem, mas o vale tudo normalmente não se usa pano, então a pegada é diferente e para praticar o jiu-jitsu normalmente precisa efetuar quedas, e no ringue o que realmente está funcionando melhor para derrubar o oponente são as técnicas de wrestling unidas a variação do jiu-jitsu chamada submission, sendo assim sempre que posso antes de uma luta eu treino somente sem quimono. Mas continuo treinando jiu-jitsu sempre e daqui a pouco a preta chega, tá perto!

O que te motivou a procurar esse esporte?

Sempre gostei de assistir e os treinadores que tive foram muito importantes, eles me influenciaram a começar a treinar, e tive alguns amigos de treino que foram importantes, pois mostraram que era possível.

Você já participou do RioHeroes. Conte como foi essa experiência:

Por mais polêmico que este caso esteja na mídia, eu vejo minha participação como uma coisa positiva, nós atletas não temos ligação com a organização do evento e nem acesso a como tudo funciona, fazemos apenas nossa parte que é lutar. Mas mesmo assim aprendi bastante lá afinal foi uma experiência muito boa no que se diz em um teste para o psicológico, eu sempre quis saber até onde conseguiria chegar, e lá é um lugar onde a adrenalina vai à mil até por você saber dos riscos que tem. Pra mim foi realmente uma grande batalha, porque só fiquei sabendo que estava confirmado no evento uns 20 dias antes dele ocorrer e treinar com esse pouco tempo foi complicado, tinha algumas lesões de treinos, mas aceitei com coragem e fui. Durante a luta realmente senti falta de adaptação para o estilo livre quase sem regras, achei que a força prevaleceu e o adversário soube usar dos macetes do octogono, no inicio estava me sentindo a vontade apesar de sofrer algumas quedas, afinal minha praia era o jogo de chão mesmo, e foi minha primeira experiência em um octogono já que sempre treino em ringue, mas admito que ele conseguiu bloquear meus ataques, mérito dele, na próxima oportunidade com certeza treinarei muito mais, com tempo ao meu favor e também pretendo intensificar a musculação, pois apesar de estar em forma com definição boa eu estava bem abaixo do peso dos maiores de lá.

O evento tem sido denunciado na mídia. O que pode dizer sobre isso?

É realmente complicado, pois a gente não tinha ligação com o que rolava por trás do evento, tínhamos um contrato a cumprir apresentando nosso trabalho que era lutar, sabíamos que não estávamos cometendo crime, pois não lembro de ter na lei algum parágrafo que diga que impeça o atleta de se submeter a uma luta mais agressiva.

Se os eventos grandes o procurassem, você deixaria de lutar na promoção de Jorge Pereira?

É tudo uma questão de negócio, todos sabem que quem luta recebe por isso, então tudo depende de um acerto de ambas as partes, isso rola em cima de propostas, o Jorge Pereira foi um cara que conversei no dia do evento e ele se mostrou interessado na luta que eu faria, e agradeço por isso, pois afinal foi minha estréia em uma luta de vale-tudo acompanhada por um público maior, mesmo que pela Internet. Então tenho muito que fazer ainda, se comparado aos que já estão ai nas lutas à muito tempo sou apenas um iniciante.

Ouviu críticas ou elogios pela sua participação lá?

Dos amigos ouvi elogios por que realmente um cara tem que ter determinação e coragem para participar de um evento como aquele, agora de outros profissionais da área ouvi muitas criticas, pois eles realmente não aprovam o evento, e demonstram muito incomodo quando se fala do que acontece lá.

Qual é a postura de sua academia sobre o evento?

No momento não estou representando uma equipe, preciso decidir isso logo, mas quando lutei representava uma equipe grande, mas não diretamente com o mestre maior e sim com um dos seus faixa preta, qual era meu treinador direto.

Você é formado em veterinária. Como fez para conciliar estudos, trabalhos e treinos?

Precisei me organizar legal, pois estava estudando e nos momentos fora da faculdade eu treinava intensamente, o que faz com que a gente não tenha tempo para sair muito pra se divertir, apesar de que quando você treina em um lugar que te de prazer acaba sendo uma diversão além de esforço, mas era complicado aparecer na faculdade com olho roxo, nariz quebrado às vezes, afinal na rotina das lutas é normal, mas não no clima da medicina veterinária (risos)..., mas acabou dando tudo certo, agora que peguei férias dos treinos to tendo mais tempo pra resolver o lado da veterinária, até o meio do ano estarei registrado no CRMV e também trabalhando mais na área que me formei afinal é um dos meus grandes sonhos. Dá para conciliar com os treinos, atualmente atendo alguns casos até por que preciso disso afinal estou em busca da independência financeira, e nos treinos a gente vai se dedicando mais conforme o nível de competição vai subindo.

Os acadêmicos (professores e alunos) o diferenciavam por ser lutador?

A com certeza sempre escutei piadinhas sobre isso do tipo “Lá vem o bruto”, e também perguntas como: “Você não acha está muito grande pra ser veterinário?”, e os amigos de classe sempre brincam, mas de forma saudável. Eu até que estudava legal e me destacava como aluno nas aulas práticas e sempre gostei do que estudava, sempre tive muita amizade com os professores, tive até um professor que se chamava Felipe, ele adorava vale-tudo e a gente sempre conversava sobre isso. Os amigos de classe nas horas de trotes ou brincadeiras do tipo sempre me chamam, mas nunca fui agressivo com ninguém lá e nem participava de brincadeiras estúpidas de trotes, mas eles marcaram história na minha vida, lembro de todos detalhadamente.

Foto: Broa encara Bill no RioHeroes