sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O drama do Arlequim do Boxe


Max Baer / (Ag. Internacionais)


Apresentado no filme Luta Pela Esperança como um assassino impiedoso, Max Baer foi atormentado sua vida inteira pela morte de Frankie Campbell e levianamente acusado pela de Ernie Schaaf

Brincalhão no ringue, boa pinta, jovem, rico e amante de famosas atrizes como Mae West, Greta Garbo, Jean Harlow e Dorothy Dunbar, Max Baer tinha realizado os sonhos de muitos homens antes dos trinta anos, mas mesmo assim não conseguia dormir.

Em 25 de agosto de 1930 enfrentou em São Francisco Frankie Campbell, o qual após uma seqüência de socos faleceu no ringue, o maior preocupado com sua saúde foi o próprio adversário, Max Baer. Ambos pugilistas apenas seguiram as instruções do árbitro para “continuar lutando enquanto o oponente estivesse de pé”, “proteger-se o tempo todo” e que “faltas não intencionais não seriam reconhecidas”.

No 2º assalto, Campbell mandou o Arlequim do Boxe, um dos apelidos de Baer, para a lona e foi comemorar com seus fãs, o opositor rapidamente se levantou e pegou-o sem guarda encaixando uma potente direita na parte traseira da cabeça de Frankie devolvendo o knockdown.

Campbell voltou e venceu o 3º e 4º rounds, porém no 5º recebeu uma seqüência devastadora que apenas as cordas o mantinham de pé, e Baer seguindo as instruções da autoridade no ringue bateu completando o seu trabalho, o árbitro errou ao não interromper a luta ao perceber que o atleta perdera os sentidos, seus segundos também erraram ao não atirar a toalha.

Frankie seguiu para o hospital e Max o visitou, ao encontrar a futura viúva Ellie Campbell pediu desculpas e ela retornou: “Poderia ter sido você”. O neurologista Dr. Tilton E. Tillman diagnosticou que a causa do falecimento foram socos sucessivamente distribuídos para a mandíbula e não o do 2º round. O cérebro do pugilista estava morto, totalmente separado do crânio.

No dia seguinte o jornalista esportivo Bob Shand escreveu: “Ninguém se sente pior pela morte trágica no fim do combate do que Baer. O grande jovem está de coração partido e pronto para se aposentar”. Mesmo com a víuva e a mãe de Campbell não prestando queixa às autoridades o promotor público prestou queixas e Max recebeu uma suspensão de um ano no território da Califórnia, mal sabiam os acusadores que cairia nos vícios da bebida e tabaco além de só conseguir dormir uma hora por noite.

Max perdeu o prazer pelo boxe mesmo sendo um dos maiores nocauteadores do esporte que em decorrência dessa morte poupou muitos adversários. Um deles Ernie Schaff.

A morte de Schaaf cai sobre Baer

No primeiro encontro de Max Baer e Ernie Schaaf em 1930, o segundo saiu vitorioso, e se enfrentaram novamente dois anos após, em uma luta de início monótono a qual o árbitro comentou: “tornem-se mais aguerridos”. De acordo com os jornais da época, Baer atacou com suas fortes seqüências o que levou Ernie a ser nocauteado somente após o gongo final o salvando do resultado e dando a perda por pontos, mas ficou na lona por cinco minutos.

Após o combate Schaaf ficou como quinto do ranking e derrotou mais dois oponentes, foi considerado melhor que o italiano Primo Carnera, e consequentemente batalhou contra este rival em 10 de fevereiro de 1933. O gigante europeu dominou o combate com socos direcionados à cabeça de Eddie que foi vítima de um nocaute ao 13º assalto, o público vaiou pensando ser uma marmelada.

Alguns críticos até acreditaram nessa possibilidade, pois assim o então campeão Jack Sharkey teria em Carnera um oponente mais valioso, e o italiano já tinha algumas de suas vitórias questionadas. A morte de Schaaf três dias depois confirmou que não houve tramóia.

A autopsia revelou que o pugilista estava com meningite, uma inflamação em parte do cérebro e para agravar o quadro contraiu o vírus da gripe. Porém o escritor Grantland Rice acusou Baer de ser o responsável por ter nocauteado Schaaf cinco meses antes da luta com Carnera. Essa alegação foi reforçada no filme A Trágica Farsa (1956) com Humphrey Bogart, na qual Baer interpreta um pugilista que afirma ter matado outro e que o personagem principal, que tem semelhanças com Primo, não foi o responsável pela morte.

Cinderela Man acusa o homem errado

O filme A Luta pela Esperança (2005) com Russell Crowe mostra Max Baer como um vilão e não um homem com suas qualidades e seus defeitos, muito menos o exime de sua culpa pelo acidente com Frank Campbell, o qual acompanhou até sua morte.

A interpretação de Craig Bierko é limitada e compromete o legado do pugilista tornando-o em personagem de quadrinhos. No livro O Homem Cinderela de Jeremy Schaap (2005) Baer tem suas complexidades de sua personalidade mais exploradas. Para se fazer justiça seria honesto uma cinebiografia ou um livro relatando a ascensão e a decadência deste que é um dos mais interessantes nomes do boxe.

Fontes:
Homem-Cinderela de Jeremy Schaap
MaxBaer.org