terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Entrevista com Sergio Batarelli

Sergio Batarelli / Divulgação


Sérgio Batarelli é um dos principais nomes das artes marciais no Brasil e mundo, tanto em cima dos ringues quanto nos bastidores. Também foi uma das maiores atrações de lutas na televisão aberta no período que foi campeão de Kickboxing.

Hoje Batarelli atua com marketing esportivo, mantém seus contatos com a televisão e fala ao Córner do Leão de suas experiências com pugilismo e como foi trabalhar o boxe feminino na Rede TV.

Fale um pouco da sua trajetória como atleta profissional:

Eu comecei praticando kung fu em 1970, me graduei mestre, depois fui regulamentei o esporte Full Contact Kick Boxing no Brasil no inicio dos anos 80, campeão da forja, campeão mundial de kick boxing em 1992, título que defendi 9 vezes, e encerrei a carreira como campeão do mundo em 1997 na categoria super pesado.

Quando você começou sua atuação como empresário no meio das artes marciais?

Quando comecei a lutar profissionalmente, eu mesmo era meu empresário e promotor.

Como surgiu seu interesse em empresariar pugilistas profissionais?

Foi o Edu Mello que me convidou para ser o COO (Chefe de Operações) da IBG – International Boxing Group, com o objetivo principal de abrir novos caminhos internacionais para os nossos lutadores, principalmente por ter muitos contatos internacionais devido ao meu trabalho nas artes marciais, hoje somos parceiros constantes da Top Rank de Bob Arum e All Star Boxing de Tuto Zabala, entre outras empresas de promoções.

Quais dos seus atletas você destaca?

A equipe toda é muito boa, com talentos, mas vou destacar quem está em ascensão no momento é o Willian Silva e o Patrick Teixeira, mas volto a dizer, todos os boxeadores da IBG são de primeira linha.

Acredita que a vitória de Patrick Teixeira no exterior abrirá portas para outros brasileiros?

Sem dúvida só aumenta a credibilidade, já que começamos a fazer isso com o Willian Silva, que vem de duas vitórias no casino Miccosukee em Miami.

O boxe feminino é uma área interessante para ser trabalhada ou está em declínio?

Já esteve melhor no mundo inteiro, mas esta indo, tem que ter paciência, mas financeiramente para as lutadoras é muito pouco ainda o que uma campeã mundial ganha, comparado aos homens.

Você trabalhou com Letícia Rojo e Adriana Salles. Como foi trabalhar com ambas?

As duas são profissionais, nunca tive problema com nenhuma delas.

Hoje Duda Yankovich é representada pelo empresário Rubens Gama. Existiu algum vínculo profissional entre Yankovich e você?

Existiu sim, ela tinha contrato com outra empresa que trabalho a Sport Promotion, na época eu acreditava que poderia fazer o boxe feminino popular no Brasil, e então conversei com os diretores da Sport (que é uma empresa de marketing esportivo que trabalha principalmente com futebol), e eles resolveram acreditar em mim, e então a Rede TV (que é parceira da Sport Promotion nas transmissões dos jogos da série B do campeonato brasileiro de futebol) acreditou também no projeto e seguimos em frente. Eu cumpri minhas metas que era fazer a Duda campeã do mundo, e dar audiência, o que aconteceu também, no auge da Duda, chegamos a registra pico de 9 pontos, o que é muito bom, principalmente para a Rede TV.

Por quê romperam?

A Duda depois de ganhar o título mundial, foi ficando cada vez mais difícil de lidar, o comportamento dela mudou muito, e ela queria fazer tudo da maneira dela, e para que de certo um projeto desses, tem que cada um ficar na sua posição, ou seja o lutador, treina, e luta, se concentra somente nisso, o promotor promove, o treinador treina, e assim por diante, quando essa engrenagem é quebrada, não funciona mais, existe um desgaste muito grande, então achamos melhor liberar a Duda do contrato para que ela seguisse a carreira dela da maneira que quisesse.

Você teve muita cobertura da mídia no período que era lutador e hoje apresenta programas de lutas. A televisão encara o atleta como um produto ou o que vemos na tela é seu puro talento?

No mundo inteiro os lutadores são um produto, para a televisão o que importa é audiência ou dinheiro de patrocinadores, mas é claro que se o lutador não tiver talento, ele nunca vai virar um produto. Um grande exemplo de produto, mas sem muito talento, é Julio Cesar Chaves Junior, que vive do legado do pai, e gera milhões no México, por isso ele luta em grandes eventos nos Estados Unidos, o público americano sabe que ele é um produto de televisão para os mexicanos, por essa razão ele é protegido, é só olhar o cartel dele, veja com quem lutou, e acredito que ele nunca vai lutar pelo título mundial, ele só deve enfrentar um verdadeiro campeão, se for para enfrentar Oscar De La Hoya, onde os dois iriam gerar milhões em bilheteria, pay-per-view e produtos, e com isso De La Hoya poderia se retirar com uma vitória e o Chaves Jr. Perderia, mas para uma lenda, que também seu pai perdeu. E se eu conheço bem Bob Arum essa luta pode acontecer, guarda minhas palavras para depois não dizerem que eu nunca disse isso.
O boxe profissional antes de ser esporte, ele é entretenimento, assim como o basquete americano, o futebol americano, e outros esportes milionários.

Isso mexe com o ego do lutador?

Mexe demais, a estrutura do homem deve ser solida o bastante para suportar o peso do lutador (produto) que são duas pessoas diferentes, e muitas vezes o lutador não este preparado e o “produto” toma conta do homem, e isso não ocorre somente no boxe, em todos os esportes temos casos assim.

O que justifica a falta de interesse das emissoras televisivas brasileiras do sistema aberto por boxe profissional?

Infelizmente foi feito muita promoção enganosa, eventos mal produzidos, lutadores sem qualidade, e isso virou um estigma na televisão brasileira, os executivos da televisão no Brasil não confiam muito, por isso com minha experiência e credibilidade e também a da Sport Promotion, tanto que a Rede TV acreditou no projeto boxe feminino e deu certo, infelizmente aconteceu que o “produto” tomou conta e ficou impossível seguir em frente.

Agora estamos fazendo o mesmo com o boxe masculino, juntamos a credibilidade do Edu Mello, a minha e a da Sport Promotion, e estamos reconstruindo o boxe brasileiro profissional, mas isso não é do dia para noite, leva algum tempo, mas acredito que muito em breve o nobre esporte volta à televisão aberta brasileira.