domingo, 4 de julho de 2010

Há 100 anos Jack Johnson se tornou o 1° atleta negro de destaque mundial.

Hoje senadores pedem que Obama o perdoe por um “crime” que não cometeu

Jack Johnson (dir.) e James Jeffries / Arquivo Histórico


No dia de hoje há 100 anos o negro texano Jack Johnson já era campeã fazia 2 anos quando bateu o canadense Tommy Burns e aceitou o desafio do lendário James J. Jeffries que voltava da aposentadoria para defender a suposta superioridade racial do homem branco.

O embate foi em Reno, Nevada, nos E.U.A no feriado que os americanos comemoram sua indepêndencia da coroa britânica. Porém o fim do combate com um nocaute técnico no 15° round de uma luta programada para 45 não foi celebrada no instante, o que se viu foram manifestações racistas tomarem o país.

Em 1910, Johnson foi acusado duas vezes de circular com mulheres brancas com “propósitos imorais”, o pugilista sempre manteve relacionamentos inter-raciais que naquele período segregacionistas eram vistos como crime. A condenação de 1 ano e 1 dia de prisão veio no julgamento em 1913.

Os congressistas do Partido Republicano Peter T. King e John McCain – presidenciável em 2008 – junto com o cineasta Ken Burns e Linda Haywood, sobrinha-bisneta de Johnson, solicitaram ao recém eleito Barack Obama do Partido Democrata que fosse concedido perdão ao lendário pugilista alegando que as acusações foram feitas em decorrência de preconceito racial.

“Acho maravilhoso que ainda se esteja brigando sobre isso. Já é tempo de este erro cometido contra meu tio ser corrigido”, defende Haywood. O pedido havia sido feito anteriormente durante o governo de George W. Bush, porém o senado negou perdão.

O pedido foi negado porque conforme a política do país ele costuma ser conferido para pessoas vivas, apenas 2 conseguiram após sua morte, uma no governo Bush e outra no Obama. Hoje um evento acontece para celebrar a vitória de Johnson com exibição de imagens do combate e presença de familiares.

Para o escritor Wayne Rozen, autor da biografia “America on the Ropes”, na qual retrata o lutador, “ele simplesmente teve a audácia de estar com mulheres brancas e foi nocauteado por isso. Eles não podiam aceitar que a pessoa mais importante do esporte fosse um negro. Ele foi julgado por uma ofensa menor e isso mudou sua vida para sempre”.

Para o senador McCain há chances da causa ser reconhecida. “Sei que o presidente (Obama), quando se debruçar cuidadosamente sobre o tema, vai querer corrigir tamanha injustiça”.

A luta e o legado

Jack London, cronista americano defendia Jeffries e via nele o retorno do orgulho racial branco afirmando uma suposta superioridade frente aos negros, tal conceito foi derrubado pelos cientistas décadas depois. No Brasil essas ideias são infrutíferas no boxe, pois como afirma o jornalista Henrique Matteucci no livro “O Galo de Ouro”, contando a história de Éder, o boxe não é um esporte de raças e etnias contra as outras.

A vitória de Johnson abriu porta para diversos negros e não brancos ascenderem não apenas nos esportes, mas também em outras áreas, entretanto, o pugilista falecido aos 68 anos em 1946 tem sua biografia manchada por um “crime”.

O combate contra Jeffries teve 20 mil espectadores que o provocavam com expressões racistas. O mundo só foi ter outro campeão negro em 1930 quando Joe Louis bateu Max Schmeling naquilo que ao invés de ser apenas uma demonstração de boxe foi transformado em um embate político da democracia americana contra o nazismo de Adolf Hitler. Louis foi o primeiro esportista negro a ser visto como herói nacional.

Hoje não apenas os negros dos E.U.A, mas muitas pessoas no mundo devem a audácia de Jack Johnson que tem seus defeitos – se negou a enfrentar lutadores negros no que pode ser visto como um medo de perder o título para eles –, mas com sua atuação nos ringues mostrou que o esporte é uma ferramenta de mobilização social.