terça-feira, 21 de setembro de 2010

A ginástica sueca de Higino Zumbano

“Tempo!”. A voz rouca e ponderada pedia que os jovens interrompessem seus exercícios no solo da academia para respirar e voltar a ginástica sueca, nome não muito difundido nos anos seguintes de um treinamento envolvendo abdominais, flexões e outros métodos naturais para fortalecer o físico.

Na academia no bairro da Santa Efigênia de São Paulo, nos anos cinquenta, ninguém havia ouvido falar de anabolizantes, os pesos pesados eram fortes, mas não com a musculatura de um super-herói. Os corpos esguios, fortes e saudáveis refletiam a luz fraca. O som dos punhos acertando sacos de couro e das cordas rebatendo no chão de madeira lembrava o barulho das máquinas em uma forja.

Era um ambiente masculino, as mulheres não adentrava com frequência ali, no máximo a mãe, irmã ou namorada de algum deles em razão de alguma urgência, tal ausência era perceptível na poeira que cobria o chão como uma camada. Naquele período acreditavam que boxe não era esporte para damas e que as mesmas tirariam a concentração dos atletas e aí um uppercut no queixo colocaria qualquer um para dormir.

Na São Paulo do passado, o uppercut era como uma pincelada de Picasso, o boxe arte predominava nos ringues que viam atletas bailarinos, o responsável pela coordenação motora, flexibilidade e fôlego deles era Higino Zumbano.

Atletas da Argentina vinham ao encontro daquele homem esbelto aparentando 50 anos de traços morenos fortes com um semblante de caboclo do interior com traços italianos de um centurião. O cabelo grisalho contrastava com a pele de tom forte e as roupas sóbrias e escuras eram uma extensão de sua personalidade.

Em distintos períodos e lugares Éder Jofre, Paulo Sacomã, Ralph Zumbano, José Eduardo Bandeira de Melo, Eduardo Melo Peixoto, Eduardo Matarazzo Suplicy e Pedro Galasso passavam antes pela ginástica sueca de Seu Higino para só então afiarem seus olhos e punhos no ringue com o Professor Kid Jofre.