quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A iconoclastia de punho nu

Bronson (Tom Hardy) / Divulgação


O termo Iconoclasta nasceu para definir aquele que se opõe a cultos ou religiosos, no século XX se tornou aquele que desrespeita instituições veneradas. Charles Bronson é um homem que com seus anseios atacou o padrão transmitido pela coroa britânica e sua vida iconoclasta foi retratada no filme inglês Bronson (2009).

Lutador de boxe clandestino de punhos nus, Michael Gordon Peterson ficou conhecido como Charles Bronson, homônimo do astro hollywoodiano de Desejo de Matar (1974). Suas lutas eram realizadas no submundo inglês.

O filme mostra cenas que incomodam apontando a maneira desrespeitosa com a qual trata desde pugilistas clandestinos até autoridades e também como é ao mesmo tempo vítima de si mesmo. Emprisionado por mais de 34 anos, 30 deles permaneceu na solitária, se orgulha de ser o “preso mais violento da Britânia”.

A cadeia para este homem foi um “hotel”, no qual melhorou suas habilidades e afiou seus talentos. Situações de refém foram seus principais crimes, mas em nenhum momento feriu mulheres ou crianças tampouco constam homicídios em sua ficha criminal.

Na década de 1970 admitiu ao tabloide The Sun que “sempre quis ser famoso”, e isso pode ser interpretado como um efeito colateral do que o pensador francês Guy Debord definiu como “Sociedade do Espetáculo” na década anterior, a sociedade midiática na qual vivemos.

Bronson busca o estrelato em uma sociedade que aparência tem ressonância maior que conteúdo. Apesar do carisma de Tom Hardy, interprete do presidiário, o filme não é uma apologia ao crime, mas pode ser encarado como um retrato do homem com uma ótica tragicômica lembrando o clássico de Stanley Kubrick, Laranja Mecânica (1971).

Bronson conseguiu se tornar uma celebridade, e existe um movimento no Reino Unido que pede sua liberdade. Atualmente se dedica a arte e seu temperamento agressivo foi apaziguado pelas aulas de arte no cárcere. A obra em seus detalhes mostra que não necessariamente o meio corrompe o homem. Como explica o filósofo francês Edgar Morín sobre o Homo Demens, a loucura existe em cada um em doses variadas. A de Bronson aflorou com maior intensidade.

Bronson / Divulgação