sexta-feira, 18 de março de 2011

Artigo: O boxe de ontem e hoje

O Córner do Leão cede este espaço para a publicação do Artigo "Boxe é Boxe" do professor de pugilismo Paulo Mendes de Maceió, Alagoas. As opiniões expressadas são de autoria do autor.

PRODUÇÃO DE TREINADORES E LUTADORES EM IGUAIS PROPORCÕES: UM TEMA PARA A REFLEXÃO

Deveríamos aproveitar melhor nossos Professores de boxe, principalmente aqueles que já possuem vasta experiência na Nobre Arte e que, incansavelmente, estão na estrada e ainda se encontram com todo o pique, para transmitir seus conhecimentos e suas experiências de vida.

Acredito que, vários de nossos, reais e efetivos professores de boxe, estão em rota de fuga de suas atividades, uma vez que, repetidamente, deparam-se, cada vez mais, com pretensos atletas, que já se enxergam, professores também. Estes “atletas-professores” da era da internet, pensam e acreditam, que ao assistirem vídeos e lerem artigos de boxe vinculados na rede, já conhecem o suficiente sobre qualquer atividade e/ou assunto que resolvam se dedicar e abordar.

Especificamente, em meu caso, não tenho mais estômago para ouvir tanta atrocidade, devaneios, e opiniões, sem quaisquer embasamentos técnico-científicos e totalmente despojadas de lógicas, destes indivíduos, que se auto intitulam professores e/ou atletas de boxe.

Infortunadamente estes pseudo-atletas sempre se mostram arrogantes e prepotentes, desmerecem e desvalorizam o verdadeiro conhecimento, o verdadeiro atleta, o verdadeiro professor - aqueles formados em Educação Física e que sempre estão se especializando na busca de um melhor desenvolvimento da Nobre Arte e aqueles que, apesar da impossibilidade de iniciarem o curso superior, se especializam, na medida do possível, que foram atletas de respeito, tanto tecnicamente como ser humano, além de que, viveram os tempos áureos, das verdadeiras lutas, e participaram de competições e embates de grandes magnitudes, bem como, conhecem e gozam das amizades, dos nossos eternos e grandes campeões - ídolos do nosso Brasil, de fato e de direito.

Aproveito para informar e direcionar àqueles “sabichões”, já que são adeptos da Internet (“YouTube”, ou coisas do gênero), que aproveitem a rede e conheçam as lutas de grandes nomes do boxe mundial como Joe Louis, Rocky Marciano, Archie Moore, Muhammad Ali – Cassius Clay, Joe Frazier, George Foreman, Larry Holmes, Ken Norton, Sugar Ray Robinson, Jack La Mota, Roberto Duran, Sugar Ray Leonard, Thomas Heans, Marvin Hagler, Julio César Chaves e tantos outros e comprovem que as lutas de hoje, principalmente as de Pesos Pesados, são apenas ensaios de lutas e nem mesmo se parecem com os treinos de academia de outrora.

Prestem atenção, na diferença do volume (quantidade) e intensidade (força e velocidade) dos golpes desferidos por round, entre o boxe de ontem e o de hoje. Observem também, que as regras do boxe atual, com toda a justiça, buscam proteger a integridade física e psicológica do boxeador, mas em contrapartida, deixou nossos lutadores “acovardados”, sem o “sangue no olho”, sem a voluntariedade e coragem suficientes para “darem a volta por cima” e quiçá, reverterem lutas, que “pareciam” já consumadas como derrotas.

Tive o prazer de acompanhar lutas em que boxeadores, mesmo após sofrerem alguns knockdowns (quedas), na mesma peleja, conseguiram virar a luta e venceram seus pretensos algozes. Busquem as lutas de Archie Moore que sofreu 3 knockdowns, contra Yvon Durelle, mas venceu a luta por knockout e de George Foreman que sofreu 2 knockdowns, contra John Lyle e ganhou por knockout técnico, vejam o gancho de esquerda na mandíbula que Muhammad Ali sofreu de Joe Frazier na 1ª luta entre ambos e só se recompõe de um golpe deste, além dos inúmeros sofridos durante a luta, quem é verdadeiramente campeão e comprovem. Felizmente existem, outros tantos casos no boxe de outrora, que atestam minhas palavras.
Na verdade, sou admirador da Nobre Arte há muito tempo, principalmente daquela praticada entre os anos 40 e 90, salvo algumas exceções posteriormente a estas décadas. Portanto sou saudoso por grandes e verídicas “Pelejas”.

O boxe era o verdadeiro boxe, povoado dos melhores pugilistas que o mundo já teve oportunidade de ver e acompanhar. Época em que só existia uma e logo depois duas grandes entidades, que regiam o boxe no mundo. Todos os lutadores, que almejavam o título mundial, teriam que lutar de verdade, lutar contra os melhores. Era apenas um único, decisivo e verdadeiro funil, e só os campeões, de fato e de direito, conseguiam passar por ele.

A existência de tantas entidades, que regem o Boxe no mundo, é fruto de pura ganância humana por dinheiro, pois sendo assim, ocorreriam mais lutas por títulos mundiais e, por conseguinte, mais lutas por unificações de títulos entre essas diversas entidades, puro comércio, uma grande decadência. Como consequência desta avalanche de entidades, ocorreu inevitavelmente, o descrédito do boxe em nível mundial, e consequentemente, a diminuição do número de lutadores, espectadores e patrocinadores – tudo isso fruto de lutas arrumadas e de quinta categoria, bem como, de lutadores igualmente classificados.

As doze ou mais entidades, que regem nosso esporte no mundo, demonstram realmente, o puro mercantilismo e uma maneira mentirosa e rápida de adquirir lucros financeiros e fabricar campeões do engodo.

Desejamos uma remodelação do boxe ou um pouco da volta ao passado, uma vez que deixou de ser uma ‘esgrima’, que, passo a passo montava e confeccionava uma estratégia, na busca do objetivo final: o nocaute. Mediocremente, o boxe, principalmente o ‘amador’(olímpico), se transformou apenas, num esporte de “Marcação de Pontos”, com golpes, na maioria das vezes, sem maiores contundências e técnica apurada.

E o ‘boxe amador’(olímpico)! Será mesmo Boxe? Merece este nome? Que vergonha! Os “boxeadores” atuais, se é que podem ser classificados como tal, não sabem caminhar no ‘ringue’, apenas saltitam para o alto, para frente e para trás, sem ao menos saberem e perceberem, que existem outras direções para se deslocarem, provavelmente, eles não têm a ideia, de que o mundo é “tri-dimensional”. Também não têm ideia de que, devemos manter o contato de nossos pés com o solo, o maior tempo possível, portanto, como conclusão, devemos saltitar menos e caminhar mais, e se possível, bem próximo ao solo, o tablado do ringue.

A Biomecânica – ciência que estuda a mecânica humana, tanto em repouso, quanto em movimento, atesta que, o Centro de Gravidade do ser humano, está localizado, imaginariamente, no meio da pelve, ossos do quadril - ísquio, ílio e púbis. Atesta também que, quanto maior a região do corpo, em contato com qualquer superfície externa, maior será o equilíbrio corporal, esteja ele em repouso ou em movimento.

Concluímos, portanto que, estando com nossa pelve, bem próxima do chão e estando com a região plantar, sola dos pés, em contato maior e mais prolongado com o solo, certamente proporcionaremos maior equilíbrio ao nosso corpo e consequentemente a todos os fundamentos inerentes a “Nobre Arte” constituídos por ataque, defesa, eficiência e técnica.
Outra observação: Nossa base se faz através do nosso corpo e de nossos pés, se não os mantivermos próximos e em contato com o solo, onde estará nossa base?

Com relação aos golpes desferidos pelos lutadores, é um absurdo o que estamos presenciando. Só existem golpes em linha como jabs e diretos e para piorar, têm de ser desferidos apenas na cabeça. Já os golpes em ângulos cruzados, ganchos, hooks, upper-cuts, não existem, nem mesmo os direcionados à cabeça e muito menos os direcionados ao corpo como os hooks.

Nem os senhores jurados, nem as maquinetas utilizadas por eles, que seriam para computar os pontos a cada golpe lançado, não levam em consideração não pontuam os golpes em ângulos tanto à cabeça quanto ao corpo e nem os golpes em linha - golpes retos ao corpo, mesmo que esses atinjam e provoquem o nocaute do adversário.
Também não existe julgamento, nos quesitos referentes à defesa, eficiência e técnica, como se o Boxe só fosse fundamentado pelos ataques com golpes. O que seriam dos boxeadores, se estes outros três fundamentos não fossem levados em consideração? Provavelmente teríamos uma enorme carnificina, povoada de sucessivos, incontáveis e intermináveis óbitos.

Infelizmente, tive o desprazer de acompanhar uma luta ‘amadora’(olímpica), em que o boxeador nocauteou seu adversário com um “hook” de esquerda, na linha de cintura e nenhum dos 5 jurados anotou o golpe em suas maquinetas. Como pode o boxeador ser nocauteado, sem ao menos sofrer um único golpe? Pelo menos, não que tivesse sido visto e/ou computado pelos 5 jurados. E aí, como é que ficamos? Como o lutador caiu e perdeu por nocaute, se o golpe nem existiu?

Sem desmerecer outros esportes de luta e artes marciais, em especial o “Karatê Shotokan” e similares, que utilizam o sistema de “toque” para pontuar e vencer a luta. Creio que o ‘boxe amador’(olímpico), está se transformando em esportes de luta, que adotam este tipo de sistema. Observem vocês, que o próprio “Karatê Shotokan” e outros, já começaram a adotar o uso de luvas diferenciadas do boxe em seus combates, a fim de que, os golpes lançados busquem também, além da pontuação, o nocaute.

Não está acontecendo uma inversão de valores? O Boxe que buscava o nocaute em suas lutas, agora busca a Pontuação, e o “Karatê Shotokan” e similares, que estavam baseados na MARCAÇÃO DE PONTOS, agora também, além da Pontuação, querem o nocaute?


Peço aos leitores assíduos deste, principalmente aqueles, que militam no campo das artes marciais e dos esportes de luta, que aproveitem esta oportunidade, para lerem, questionarem, e fazerem uma análise crítica, sobre o que está sendo ensinado, aprendido e mostrado, nas academias e televisões de todo o mundo. Estará o “boxe” sendo o BOXE, em toda a sua essência e história?