terça-feira, 24 de abril de 2012

Síndrome de Johnny Cage



Em 1992, os designers de games Ed Boon e John Tobias deram ao mundo um dos personagens mais famosos da história desta indústria, o lutador e astro de filmes de ação Johnny Cage da série de jogos Mortal Kombat. Na verdade era esperada uma participação no jogo de gráficos digitalizados do ator Jean-Claude Van Damme, mas kickboxer belga não pôde participar do projeto, o que explica as iniciais de ambos nomes, "JC".

O game sombrio que trouxe uma violência em larga escala para esta mídia visando um público mais adulto mantinha outros personagens que marcaram uma geração, mas enquanto os ninjas, militares, mercenários, monstros, magos e monges se mostravam sóbrios, Cage era uma espécie de alívio cômico que ainda por cima possuía um bom repertório, enquanto debocha de seus oponentes ou ressalta suas próprias habilidades.

O personagem na cronologia morre e ressuscita diversas vezes até que ano passado foi lançado Mortal Kombat (2011) remontando a origem da saga. O vídeo acima é o trailer de apresentação de Cage no último capítulo da série. Muitos lutadores da vida real que cresceram com este game conhecem o personagem e até nos círculos alguns têm o apelido ou colocam a alcunha de "Johnny Cage" em colegas.

Falar de forma considerada arrogante se tornou lugar-comum nos esportes de combate, principalmente no boxe, MMA e o coreografado pro-wrestling, entretanto, para falar tanto é esperado que o lutador garanta com firmeza suas posições. É um arquétipo (perfil) muito encontrado na industria do entretenimento ou da informação seja nos exemplos acima como nos teatros, cinemas, games, telejornais e outras mídias. Cage ao menos se garante, quando não está nos jogos fãs sentem sua ausência seja como protagonista ou oponente.

"Não haveria proeza heroica se não houvesse um ato supremo de realização. Eventualmente pode acontecer de um herói fracassar, mas este será normalmente representado como uma espécie de palhaço, alguém com pretensões além do que pode realizar", aponta o mitólogo Joseph Campbell em sua entrevista a Bill Moyers publicada no livro O Poder do Mito (1988). Cage é um "palhaço" que deu certo e realiza suas pretensões na série e também como produto da marca Mortal Kombat.

O Johnny Cage dos games ainda tem sua utilidade, além de aliviar o tom de violência e escuridão da trama é considerado hábil lutador por aqueles que o controlam e acaba ludibriando aqueles que dele pouco esperam. Entretanto seus pupilos na vida real em muitas vezes não adquiriram esta habilidade, de se fazer arrogante para fortalecer a crença em si ou mesmo enganar o oponente de suas forças e fraquezas e acabam sendo vistos como pastiches por seus pares e possíveis fãs e terminam por sofrer a Síndrome de Johnny Cage.