quinta-feira, 10 de maio de 2012

A vida de Christy Martin reflete as mudanças de seu tempo

Christy Martin / (Foto: Casey Kelbaugh - New York Times)

Nos anos 1990, Christy Martin, 43, lutou para obter seu espaço no boxe como uma das pioneiras no profissionalismo a obter destaque na mídia e credibilidade. O mundo do boxe é fálico e paternalista, ou seja a masculinidade é valorizada. Mulheres demoraram a aparecer na plateia e as que recebiam e ainda obtêm muito destaque são as ring girls, as garotas da plaqueta.

A imagem de Christy boxeando com seus calções rosas trouxe feminilidade ao ringue, num desportes que em muitos casos apontam a mulher competidora como um pastiche ou excentricidade. Don King pode ter muitos defeitos, mas faz parte da evolução do boxe e de sua história. Don King viu algo na pugilista americana e investiu nela. Conquistou cinturões e fez preliminares de nomes como Mike Tyson.

Nesse período a mulher já estava inserida no mercado de trabalho e seu crescimento começou a se dar mais, tanto que hoje algumas das pessoas mais poderosas do mundo são senhoras maduras como Oprah Winfrey, Hillary Clinton e Dilma Rousseff. As duas primeiras já tinham destaque naqueles anos, enquanto a brasileira seguia nos bastidores políticos.

A pugilista já no século XXI acaba tendo uma passagem de sua vida refletida nas mudanças sociais. porém dessa vez não foi algo que ela buscou, mas um acontecimento infeliz. Em 2010, foi esfaqueada e levou um tiro de arma de fogo de seu esposo James Martin, 68, que também era seu treinador.

Este ano James Martin está sendo julgado pela Justiça de seu país, um exemplo de que a violência contra a mulher tem de ser não apenas discutida, mas denunciada e recriminada em sociedades que prezam o Poder Judiciário. Segundo estudo do Instituto Sangari  foram assassinadas no Brasil mais de 43 mil mulheres entre 1980 e 2010. Em um mundo globalizado como o atual avanços tecnológicos cruzam fronteiras, mas dados apontam semelhanças que não tornam países mais exemplares que outros, neste ponto há uma semelhança decadente entre Martin e as brasileiras.

A fúria de James Martin se deu ao descobrir que Christy possuía uma amante do mesmo sexo. Sua intolerância então se reverteu em um crime que agora o tem como culpado segundo a Justiça americana. No dia de hoje, o Presidente americano Barack Obama apontou ser favorável ao casamento homossexual. Christy agora vive com sua parceira Sherry Lusk.

Obama pode sofrer retaliações nas urnas, por parte dos setores conservadores que por sua vez possuem total direito de ter sua voz. Os EUA é um país livre que dá aos seus cidadãos direito de concordar, discordar ou mesmo ser indiferente aos discursos.

O boxe é um esporte tão rico por ser uma analogia da vida. James J. Braddock simbolizou o ressurgimento da América após a quebra da bolsa em 1929, Jack Johnson foi a voz dos negros rebelados, Joe Louis o herói negro no período da 2º Guerra e seu rival Max Schmeling era usado pelo III Reich como ferramenta de propaganda do Nacional Socialismo, porém depois mostrou-se contrário a ideologia e foi o grande amigo de Louis, pagando por seu funeral. Éder Jofre deu grande ajuda para romper com o complexo de vira-lata do Brasil ao conquistar o cinturão.

As mudanças na vida de Martin podem ser vistas como reflexos da sociedade que está inserida dentro de um mundo globalizado. Sua ascensão no campo profissional ajudando a abrir espaço para outras, a violência sofrida no lar e o fato de assumir sua homossexualidade e lutar por seus direitos nos tribunais e ela a faz de uma forma discreta sem estardalhaços e carnavais. No dia 14 de agosto terá mais uma batalha, desta vez dentro do ringue e será a última tanto para ela quanto para a também ilustre Mia St. John.