domingo, 9 de setembro de 2012

Hector Javier Velazco luta pelos direitos dos boxeadores argentinos

Hector Javier Velazco / (foto: reprodução)

O argentino Hector Javier Velazco, 39, conquistou o cinturão interino dos médios (72,6 kg) da Organização Mundial de Boxe (OMB) que depois se tornou o "regular" após o dono da versão principal não poder defendê-lo devido ferimentos.

Com isto Velazco (37-9-1, 16 KO's) realizara um sonho de menino, o qual escrevia com suas pequenas mãos nas árvores e no aslfato "Hector Velazco, campeão mundial". O garoto de infância pobre superou muitas dificuldades, mas perdeu a coroa no seu próximo combate que foi contra o alemão Felix Sturm.

O ouro do boxe não se transformou em dinheiro na sua conta bancária, e Velazco após anos de batalhas duras tendo dividido o ringue com nomes como "King" Arthur Abraham e Jürgen Brähmer deixou os ringues em 2010, percebendo que mesmo obtendo glórias não ficou rico.

Hoje Velazco tem um sonho maior, o de mudar as condições trabalhistas dos boxeadores de seu país, muitos explorados pelo sistema de promotores, managers e outros empresários que lucram com a indústria, assim como o vizinho Brasil e para isto criou a A.De.Bo.Ar (Associação Defensora dos Boxeadores da Argentina)

Em entrevista ao Córner do Leão, Velazco dá um depoimento sincero sobre sua carreira, a A.De.Bo.Ar, o projeto de lei que visa melhores condições e o que espera de toda essa nova e mais dura batalha.

Como descreve a sensação de ter o braço levantado e o locutor o declarando como novo campeão interino da OMB?

Foi tão maravilhosa quanto a sensação de chegar em primeiro em uma corrida, quanto a do nascimento de um filho e de ver um sonho se cumprir depois de muita luta, esforço e pobreza.

Desde criança sonhava em ser rei do mundo?

Desde criança escrevia em minha parede, nas árvores e no chão: "Velazco Campeão Mundial".

Sua vida financeira e social mudou muito depois da coroação?

Minha vida não mudou muito no econômico já que me pagaram somente 1% do arrecadado com este combate milionário, mas trabalhei construindo minha casa com minhas próprias mãos e fiz publicidade.

Como foi a luta com Sturm?

Sei muito bem que ganhei a luta com Sturm, talvez não por muita diferença, mas tenho certeza que a venci. Todavia, era um estrangeiro e lá (na Alemanha) os dois jurados alemães deram vitória ao local e o jurado mexicano me viu como vencedor. A luta foi por decisão dividida e nunca me deram a oportunidade de revanche, como me havia prometido Francisco "Paco" Valcarcel, presidente da OMB, haja vista que Sturm não tinha que cumprir defesa obrigatória do título.

O jogador de futebol brasileiro Falcão fala que a aposentadoria de um atleta é sua primeira morte. Isto aconteceu contigo também?

Convivi com alguns jogadores de futebol e realmente é verdade, o retiro é uma morte. Entretanto, os jogadores de futebol são preparados psicologicamente para tanto, nós boxeadores somos exauridos, usados, pois só nos tiram.

Qual é o quadro atual do boxe argentino?

A Argentina sempre teve grandes guerreiros, mas também sempre foram usados e abandonados pelos promotores que somente buscam suas próprias fortunas.

Por quê quer leis mais rígidas para o boxe argentino?

Para que os promotores não aproveitem de nossas necessidades, para que haja uma regulamentação desta atividade, para que um boxeador que não possa mais lutar tenha do que viver.

Foi vítima de alguma situação de bastidores?

Sim, me fizeram assinar contratos abusivos, assinei papéis em idiomas estrangeiros depois de uma luta difícil em que fui nocauteado.

Como são os encontros com os boxeadores que estão formando a A.De.Bo.Ar (Associação de Boxeadores Argentinos)?

Nos reunimos há quatro anos, na capital de meu país, para formar esta associação visando defender os pugilistas dos abusos de alguns poucos promotores (empresários) que manejam este esporte e, após usar os atletas, os afastam sem obra social (serviços de saúde patrocinados pelo sindicato da respectiva categoria), sem aposentadoria e sem nada para viver.

E os políticos já se manifestaram?

Os que se comprometeram em colaborar com a lei, haja vista que somente uma lei pode obstruir o abuso dos empresários e promotores de boxe.

No Brasil algumas organizações pedem apenas exame médico anual para os lutadores. O que pensa disto? Na Argentina é a mesma coisa?

Na Argentina o pugilista deve realizar exames a cada seis meses, entretanto, em algumas situações em que necessitam de algum rival, é óbvio que o fazem lutar até com licenças vencidas e canceladas.

A.De.Bo.Ar / (arte)